Eu não acho que a política identitária está errada. Aliás, acho que o Ciro perdeu mais do que ganhou nessa.
O que eu fiquei puto (e aí talvez tenha me exagerado) é comprar narrativa fresquinha petista de destruir reputações que só funciona contra outros nomes de esquerda.
Eu discordo do Ciro, vamos deixar claro, eu acho que todo mundo que está se ferrando nesse governo importa e tem que ser abraçado, quando o Ciro coloca que uns problemas são mais graves ou urgentes que outros, ele cria essa briga que criou aqui, ninguém vence. Só que querendo ou não, a gente ainda precisa do Ciro pra ser oposição ao fascismo, ainda mais se ele está disposto à ir pro centro e buscar apoio entre a ala do PSDB que ainda quer ser social-democrata. E claro que desconstruir preconceitos é um trabalho de educação em constante progresso, inclusive nosso aqui que se acha super liberal, então eu também acredito em ter um cuidado especial sobre como se dialoga com essas questões num tom menos acusatório e mais pedagógico.
Mas isso entre quem a gente sabe que tem esses déficits de educação, claro, a base bolsonarista de classe média que sabe que tá machista/homofóbica e não só não se importa, como sente esse prazer sádico de pisar nos outros, tem que é se foder mesmo.
Mas de novo, eu discordo do Ciro, eu acho que comprou demais essa ideia que foi a passeata feminista que "assustou" o brasileiro comum e deu a vantagem ao Bolsonaro. Pra mim foi a movimentação das mulheres e dos movimentos LGBT que deram pra gente 45% em primeiro lugar, e se a gente tivesse um movimento negro mais forte, é óbvio que ele iria se opôr de forma igualmente contundente. Mas aí a gente tem que arrumar um jeito (e eu também tive essa dificuldade assim que a blogueiragem petista começou já o processo de ataque) de criticar a esquerda sem entrar no ciclo de auto-destruição.
Que se discorde do Ciro, vá lá, a preocupação dele (pelo menos da boca pra fora, não dá pra ter bola de cristal pra mente das pessoas) é colocar comida na mesa do nordestino, é dar emprego ao favelado, assim por diante. Não dá pra dizer "esse cara é um bosta, ele que se foda" com uma levianidade dessa. Eu acho que os EUA encontraram nessa eleição bons nomes que simbolizam que a gente tem que atacar tudo ao mesmo tempo.
A Osario-Cortez é um anjo. Tem a questão da representatividade, está brigando contra corporação roubando dinheiro público, está querendo saúde pra todo mundo, está querendo um "pacto verde". Ela combina todas as coisas sem deixar nada pra trás. O Ciro já está mostrando que não consegue isso. Pra mim o caminho é esse. Só que se há uma força de oposição ao fascismo que não faz esse caminho por completo, a gente tem que conseguir também dialogar com essa força sem dizer "ah, que se foda".
Fica parecendo a Márcia Tiburi dizendo "ah, vocês que votaram no Ciro no primeiro turno, no segundo vota no Bolsonaro" pro nosso desespero. Eu sou marineiro. Pra mim tudo tem que ter diálogo.